domingo, 12 de julho de 2009

Porque ela morreu? Como falar de morte com as crianças


Uma dificuldade certamente enfrentada por muitas famílias é como falar para uma criança que alguém morreu ou simplesmente falar sobre o assunto morte, o que é completamente compreensível, já que mesmo para os adultos isso ainda é um assunto velado.
O ponto de partida é a verdade. As pessoas que estão ao redor das crianças são, normalmente, aquelas em quem elas mais confiam, logo são para elas que serão direcionadas as perguntas e dúvidas sobre os mais diversos assuntos, como a morte, e esconder os acontecimentos não é a melhor opção.
A criança percebe mudanças no ambiente onde vive e nas atitudes dos familiares e cedo ou tarde ela descobre a verdade. Omitir o fato seria algo grave, seria retirá-la da família apenas por ela não apresentar uma linguagem adulta e por conseqüência ela nem ousará perguntar futuramente sobre os mais diversos assuntos, pois as pessoas em quem ela confiava, traíram sua confiança.
É importante perceber a criança como alguém livre de preconceitos. Até os sete anos de idade as crianças questionam sem angústia a respeito da morte e por volta dos três anos a criança já começa a perceber a morte ao seu redor provavelmente através de desenhos, filmes, noticiários, bichos de estimação, desta forma não devemos pensar que elas não entendem nada do assunto.
Os sentimentos e significados que a morte traz, são pessoais e dependem da experiência e significação que cada um possui, portanto é equivocado tentar imaginar como a criança vai reagir, pois depende de como se instauram as suas experiências sobre o assunto e como ela percebe as reações das pessoas que estão ao seu redor. Se as pessoas passam para ela naturalidade, possivelmente ela vai aprender a encarar com naturalidade também, o que não quer dizer que os adultos e as crianças não sofram, mas apenas que conseguem encarar os fatos de uma maneira sadia.
Falar que o morto foi viajar ou dormiu, não são boas opções, pois podem criar falsas expectativas de retorno ou de que a perda não foi algo definitivo.
Provavelmente a criança irá demonstrar dor, saudades e outros sentimentos naturais em relação à morte e também perceberá que a atenção que era destinada a ela mudou logo após o evento, mas o importante é que passando o momento de crise, ela volte a se sentir segura e bem cuidada.
Cabe ao adulto dar a compreensão da morte para a criança a partir das ferramentas que ela possui, para que ela compreenda a morte de forma condizente com a sua idade e que passe pela experiência de perda. Isso faz ela perceber a realidade dentro de suas capacidades e naturalmente ela encontrará comportamentos e ações que dêem significado à nova experiência de vida.
Segundo a psicóloga Kátia Regina Beal Rodrigues, “nós, adultos que muitas vezes acreditamos que sabemos muito, ouvimos delas (as crianças) as melhores respostas para as perguntas que não saberíamos responder”.
Assim devemos respeitar a maneira como as crianças encontram para superar o momento da morte.



Referência: Kátia Regina Beal Rodrigues. Psique - Ciência e Vida – Ano III, n°26. Editora Escala